Obviedades das avaliações sobre educação - Gabriel Chalita

São diversos os instrumentos de avaliação que revelam o quanto nossos alunos estão deixando de aprender na escola. A divulgação recente dos resultados de um deles, o do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), por exemplo, detonou uma série de análises, de comparações estatísticas, de comentários. O quadro é de desolação.

Estamos errando. É óbvio. E errando consecutiva e insistentemente. Sem banalizar o cenário educacional, seja de São Paulo, seja do Brasil, é necessário que consideremos questões básicas e preliminares. Para que serve a avaliação? O que se faz com os resultados? O que esses resultados querem nos revelar? Professores, alunos, gestores e a sociedade tornam-se reféns de números, de gráficos, de listas. É urgente considerar as obviedades que os diversos instrumentos de avaliação comprovam. Observar os dados, refletir sobre as verdades, reorganizar os conceitos, reconduzir a prática educativa, identificar novos caminhos, compreender seu caráter diagnóstico e não classificatório.

Sem punições, sem culpados, sem reféns.

Tomando por empréstimo de Eça de Queiroz o personagem Acácio, homem simples e ingênuo que dizia apenas o óbvio, vejamos: houve uma queda considerável no desempenho dos alunos – em especial nas séries concluintes de cada etapa –, nas disciplinas básicas de Matemática e Língua Portuguesa.

Se os alunos não vão bem, a culpa é de quem? Do professor? Não nos cabe indicar culpados. Se o professor ensina e o aluno não aprende, há uma evidência de que o caminho percorrido não é suficiente.

Paulo Freire, em uma de suas viagens pela zona rural de Pernambuco, deu-se conta de que seu discurso apenas faria sentido àqueles camponeses se partisse do “aqui” e do “agora” de seus interlocutores, do “saber de experiência feito” trazido pelos educandos. Essa é a grande reflexão. Não há culpados; há um enorme distanciamento, isso, sim, entre o “aqui” do educador e o “lá” dos educandos. Os meios estão equivocados. A aproximação necessária deve assumir um caráter dialógico, que permita o encontro entre a problemática conduzida pelo líder – o professor – e os dois saberes, de modo a proporcionar o aprendizado de fato. Formação, orientação, apoio e reflexão: é disso que nossos docentes necessitam. Não de punição.

Os resultados indicam que o número de bônus concedido este ano despencou. Que professor não gostaria de receber um prêmio pelo seu trabalho? Mais uma evidência de que o docente está carente de informações que lhe possibilitem conduzir seus alunos ao aprendizado efetivo. Seu fazer pedagógico clama por orientação. É deseducativo cobrar de alguém um resultado que ele não sabe como alcançar. É preciso acolher as fragilidades, indicar novas possibilidades, provocar o pensar do educador. Formação, com educação.

Na tentativa de justificar o que parece não enxergar, as autoridades apontam a ausência e a rotatividade de professores como as grandes vilãs do resultado de falência. Oras, se não há aderência do educador nem quadro à disposição, é óbvio que há insatisfação e desinteresse pelo ofício. Ser professor não é ter uma profissão atrativa. Não há mais como manter a falácia de que se nasce professor. O educador se forma dia a dia, na prática da sala de aula, com formação constante e adequada. Na esperança do acerto, a partir da consciência do erro. Na reavaliação conjunta de seu fazer pedagógico. Em equipe, com respaldo acadêmico e político, com reconhecimento e parceria.

O professor é um profissional como tantos outros. Ensinar não é ato de caridade. É preciso reconhecer o educador pelo seu ofício em três lugares: na cabeça, no coração e no bolso.

Formação constante. Acolhimento profissional e humano. Remuneração justa e digna. Mais uma avaliação evidencia o quanto isso é importante. No entanto, não se deve ter um olhar míope e, sim, simplicidade, discernimento e desejo real de mudança para reconhecer o que anunciam, de fato, os resultados obtidos. Os números são os meios, não os fins. “A mudança não é trabalho exclusivo de alguns homens, mas dos homens que a escolhem”, dizia Freire.

Mudar é difícil? Sim. Mas óbvio e urgente.

23/10/2011

Fonte: www.profissaomestre.com.br


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