Países tão diferentes como Estados Unidos, Cingapura, Austrália e Chile já perceberam que precisam mudar radicalmente a formação de seus professores para assim melhorar a qualidade de sua educação. Todos eles estão substituindo a forte ênfase em aulas teóricas e trabalhos acadêmicos de suas Faculdades de Educação pelo chamado “modelo clínico”. Este modelo se assemelha ao utilizado na formação médica, já que é eminentemente prático.
Nesse modelo, parte importante da formação de professores acontece em uma escola de ensino básico e não nas salas de aula dos cursos de licenciatura ou Pedagogia. Neste ambiente escolar, um professor mais experiente, a cargo de uma sala de aula, é acompanhado por um aluno de Pedagogia ou licenciatura que aprende a planejar e dar aulas na prática, desde o início de sua graduação. Aos poucos, este estudante de licenciatura vai substituindo o próprio professor nas tarefas da aula, até ser responsável por lecionar por um longo período de tempo diante dos alunos.
Esse futuro professor é acompanhado de perto pelos professores da Faculdade de Educação, cujo papel neste modelo de formação é dar o suporte teórico e didático para esta jornada do aprendiz a professor.
Pode parecer óbvio que um médico deva ser formado neste modelo clínico, e seria impensável que fosse de outra forma. No entanto, todos os dias, nós formamos professores cujo primeiro contato com a sala de aula acontece depois da faculdade, muitas vezes no seu primeiro dia de trabalho, em uma escola. É por isso que o modelo clínico representa uma mudança radical na forma de pensar e fazer a formação de nossos professores.
O relatório “Preparando os Professores: buscando evidências para a política pública”, elaborado em 2010 pelo Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos, uma espécie de CAPES norte-americana, recomenda o modelo clínico de formação de professores. Segundo este relatório, uma formação fortemente vinculada ao trabalho que o professor vai realizar no futuro, além de uma intensa supervisão e avaliação do caminho percorrido pelo aprendiz de professor, gera maior probabilidade de reter este profissional na carreira docente e de que ele seja um professor efetivo em sala de aula.
Como colocar em prática um modelo deste no Brasil, onde metade dos cursos de formação de professores é a distância e uma boa parte dos presenciais são cursos noturnos?
Primeiramente, precisaríamos de mais investimentos, pois seriam necessárias bolsas de estudos para que todos os alunos de licenciatura e pedagogia pudessem estudar em cursos presenciais diurnos. Além disso, seria necessária uma mudança radical no perfil das Faculdades de Educação e dos formadores de professores. As Faculdades teriam que ter um vínculo forte com as escolas públicas de seu entorno para oferecer aos futuros professores um ambiente prático de aprendizagem. Além disso, o corpo docente das Faculdades de Educação passaria a ser composto, majoritariamente, por profissionais fortemente vinculados às salas de aula e ao trabalho pedagógico, e menos por cientistas voltados às teorias sociais, filosóficas, econômicas e psicológicas da educação.
Pode parecer um sonho distante para a realidade da formação de professores que temos hoje em nosso País, mas foi com esse tipo de sonho e com o esforço de colocá-lo em prática que países como Cingapura e Austrália trilharam o caminho do sucesso em educação.
10/06/2011
Fonte: www.profissaomestre.com.br